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O Nordeste contemporâneo: desafios e perspectivas para uma Ação Evangelizadora – (VER)
O que se entende por Nordeste? • O imaginário sobre o Nordeste é marcado por estereótipos: ü Seca; ü Fome; ü Mortalidade infantil; ü Religiosidade popular etc.
• Tudo isso é verdade, porém o que se chama Nordeste, hoje, representa uma sociedade complexa, na qual sistemas culturais modernos, pós-modernos e prémodernos se relacionam, criando uma pluralidade cultural rica e complexa ao mesmo tempo. • Não há um, mas vários Nordestes, dentro desta região que nós chamamos de Nordeste. • Ao mesmo tempo que parte da população vivem em pleno desenvolvimento moderno, há vários subsistemas que ainda continuam vivendo e se organizando a partir de esquemas arcaicos que estão na base de nossa formação cultural e econômica.
• Se antes o Nordeste era marcado pelos processos migratórios para o sul e sudeste do país, hoje, Pernambuco, por exemplo, é um polo migratório de trabalhadores de todo o Brasil.
Porém, há estruturas que remontam à nossa constituição cultural e econômica continuam. . . • O branco, patriarca e cristão era o senhor absoluto; • O engenho foi o berço da origem cultural brasileira
Porém, o Nordeste tem passado por profundas transformações nas últimas décadas: ao mesmo tempo em que preserva situações tradicionais seculares, a sociedade vai se modernizando e, inevitavelmente, torna-se urgente pensar a ação da Igreja nesse novo contexto.
O contexto atual mudou Quando a realidade se transforma, devem, igualmente, se transformarem os caminhos pelos quais passa a ação evangelizadora (n. 25);
É urgente repensar: • A ação evangelizadora da Igreja na sociedade atual; • Uma espiritualidade cristã que responda às novas formas de viver a fé dos cristãos; • Uma Igreja de comunidades que tenha a dinâmica necessária de responder aos “sinais dos tempos”
O primeiro passo: • Compreender o contexto atual, na busca de ler os “sinais dos tempos” para a ação evangelizadora da Igreja VER a realidade
• Mudanças globais no catolicismo
A nível mundial: Houve um deslocamento no catolicismo: de uma Igreja secularmente monocêntrica (Europa), passamos, no séc. XX, para uma Igreja policêntrica (América, África, Ásia e Oceania)
O futuro numérico do cristianismo está fora da Europa
O que provocou tal mudança?
• 1. A secularização – a perda da dimensão religiosa como tutora da realidade (teocentrismo); • Uma relação com a religião, independente do sistema religioso; • A característica é o acento na “religiosidade” e a relativização da “religião”.
2. A religião vai sendo exilada na vida privada da vida dos indivíduos • Antes, no paradigma teocêntrico (sec. VIXV) a Igreja detinha a hegemonia da cultura ocidental e agora a religião vai se “localizando” na subjetividade das pessoas; • É a “religião invisível” (T. Luckmann)
3. A pluralidade cultural • Fruto dos processos migratórios no mundo, principalmente para as regiões ricas do globo (EUA e Europa); • Que gera um relativismo dos modelos tradicionais de sentido para a existência (família, sexualidade, religião etc. );
E no Brasil. . .
• Estamos no fim do processo migratório no Brasil – a maioria das pessoas já moram em cidades de médio e grande porte (+/- 83% da população); • Se antes, na cultura tradicional, o catolicismo era herdado pela cultura, agora, na cultura urbana, marcada pela pluralidade de ofertas de sentido, a sua adesão passa, cada vez mais, por uma opção subjetiva.
Características desse sujeito urbano? (tópicos. . . ) • 1. Vive, muitas vezes, uma crise do sentido único para a existência: q. A modernidade gerou a aceleração da pluralidade cultural, ou seja, uma grande variedade de ofertas de sentido; q. Diante do pluralismo de ofertas de sentido, uma certa relativização é inevitável;
• 2. No campo religioso há duas tendências fortes no momento (também no catolicismo ): qo relativismo (o “kit católico”); qe o fundamentalismo.
3. É um sujeito marcado pela ideia de consumo (religioso) • A economia conseguiu perpassar todas as esferas da vida humana – tudo se transforma em objeto de consumo; • A máxima é: “Consumo ergo sum” – (Consumo, logo existo) e essa lógica atingiu, também, esferas do catolicismo; • Há uma forte tendência, na atualidade, de uma relação com o cristianismo para o “consumo” religioso próprio;
• Gera-se uma relação utilitária com a religião (catolicismo); • A partir do “meu desejo”, das “minhas necessidade” subjetivas é que eu me relaciono com Deus;
4. É um sujeito com uma identidade cada vez mais “flutuante”. . . • As subjetividades são cada vez mais flutuantes, fluidas, nômades. . . • As identificações, que geram identidades, são sempre mais provisórias; • A partir das perguntas existências, do momento, são feitas as escolhas, também religiosas (religiosidade nômade – interna e externa).
• Isto gera algumas posturas: : • Uma religiosidade flúida, porosa, flutuante; • A ideia “Deus(? ) sim, Igreja não!” • Uma Religiosidade líquida.
Consequências e questionamentos para a ação evangelizadora da Igreja
Algumas características do contexto cultural (eclesial) atual: Cultura Igreja
Algumas características do contexto atual. . . “Mudança de época” Não estamos vivendo apenas uma época de mudanças, mas rigorosamente uma mudança de época. (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, n. 51)
Na mudança de época: Está em “crise”: INSTITUIÇÃO TRADIÇÃO SONHO/UTOPIA RENÚNCIA/SACRIFÍCIO ETERNO/DEFINITIVO FIXO ÉTICO RACIONAL Cada vez mais em evidência: INDIVÍDUO NOVIDADE/ESCOLHA PALPÁVEL FRUIÇÃO/GOZO TRANSITÓRIO METAMORFOSE ESTÉTICO EMOTIVO
Alguns desafios teológico e pastorais: • A consciência de tempo está mudando: se na cultura tradicional o tempo era cíclico, na cultura urbana as temporalidades são existenciais; • O espaço da socialização religiosa está mudando: na sua origem, a paróquia estava inserida no o espaço de socialização do indivíduo, basta ver a organização arquitetônica de uma pequena cidade do interior;
• A “crise”, em alguns contextos, do modelo paroquial: – Muitos cristãos só dormem onde moram, não tendo nenhuma socialização com esse espaço e lá está a paróquia; – O futuro será marcado pela necessidade de uma relação maior entre paróquias e os movimentos; – Como trazer os movimentos para a dinâmica da Pastoral de Conjunto das dioceses?
Religião e Mídia: • Está claro que a Igreja tem que se envolver e utilizar-se dos meios de comunicação para a evangelização; • Porém, não está claro, até que ponto, a lógica do marketing, que é puramente financeira, não será a lógica dominante, também, no catolicismo. . .
• Evangelho e marketing não é uma relação tão simples: • Não podemos deixar de nos envolver com a mídia, porém, o Evangelho não pode ser confundido com um produto de consumo existencial para o “cliente” moderno ou pós-moderno; • A cultura atual e a mídia chamam para a “amnésia” (é feliz quem esquece), porém, a cultura bíblica nos chama para a “anamnese” (Lembra-te Israel; Fazei isto em memória. . . ).
Desafios na Igreja, no atual contexto: Que a estetização da cultura gere uma “Igreja de eventos”; Que a cultura de vivências (emoções) enfraqueça a educação da fé (a formação catequética permanente); Que a “cultura da amnésia” enfraqueça a profecia e o anúncio do Reino de Deus no mundo; Que a “lógica do consumo” prevaleça cada vez mais nas práticas devocionais; Que os pobres não encontre “abrigo” na ação evangelizadora da Igreja.
Fim da I Parte. . . Obrigado!